domingo, 28 de outubro de 2007

A new order has come


O New Order já era, em 1987, considerada a "maior banda independente do mundo", já que ela seguia, desde os tempos em que se chamava Joy Division. ligada à Factory Records, a anárquica gravadora de Manchester dos quais, na prática, a banda era sócia, ao lado do apresentador de TV e agitador cultural Tony Wilson (falecido no mês passado) e do empresário Rob Gretton (morto em 1999). Essa história é retratada, de modo não muito condizente com a - dizem - verdade dos fatos, no filme A Festa Nunca Termina (24 Hour Party People), de 2002. Mas voltemos ao New Order.

A banda sempre teve o hábito de lançar muitos singles, e muitos deles não constavam nos álbuns gravados pela banda. Canções como "Blue Monday", "Confusion" e "Thieves Like Us" só existiam em versões de 7 e 12 polegadas, os formatos de compactos da época. E logo após o lançamento de Brotherhood (1986), quarto álbum da carreira do NO, não se sabia o futuro da banda.

Diz a lenda que Tony Wilson comprou um carro novo em meados de 1987 e que o veículo vinha com um CD player, coisa considerada um enorme luxo. E daí surgiu a idéia de juntar todos os singles do New Order em um único pacote. E eis que, em 17 de agosto daquele ano, saía Substance, a primeira coletânea da banda, juntando boa parte dos singles de 12 polegadas da carreira da banda em vinil duplo, cassete (simples ou duplo, dependendo do país) e CD duplo. O disco também foi lançado em DAT (Digital Audio Tape), um formato que ficou restrito a uso profissional. Nas versões em cassete duplo, CD duplo e DAT, além dos lados A dos compactos, estão também alguns B-sides e remixes.

Dois dos compactos, "Temptation" e "Confusion", entraram no disco em regravações feitas especialmente para a coletânea, enquanto "Ceremony" entrou na segunda versão gravada, quando Gillian Gilbert já fazia parte do grupo. A primeira versão, gravada apenas por Bernard Sumner, Peter Hook e Stephen Morris, só viu a luz do laser na coletânea Singles, de 2005. "Subculture" aparece em um remix de John Robie, enquanto "The Perfect Kiss", na versão em CD, está em uma versão levemente editada, por conta das limitações de tempo do formato na época (máximo 74 minutos). Para completar o pacote, a banda incluiu no disco duas músicas na época inéditas, que saíram como novo single simultaneamente: "True Faith" (no vinil e CD/cassete 1) e "1963", B-side desta.

Dentre os B-sides, mais confusão: a canção "Cries and Whispers" foi erroneamente creditada como "Mesh" (erro que persiste nas edições da obra até hoje), enquanto a verdadeira "Mesh" aparece em algumas versões em cassete creditada como "Cries and Whispers". Bem que dissemos que a Factory era uma gravadora anárquica, né? Depois do lançamento de Substance, o New Order fez uma turnê mundo afora e, em dezembro daquele ano, parou para gravar o disco Technique, que seria lançado em janeiro de 1989.

Confusões de versões à parte, a coletânea deu finalmente a fama mundial à banda, vendendo mais de um milhão de cópias nos EUA e vendendo bem também no Brasil. Vendeu tanto que no final de 1988 - antes mesmo do lançamento de Technique - o New Order fez uma série de shows em terras brazucas: um em Porto Alegre, um no Rio de Janeiro e quatro em São Paulo.

Curiosidades

A capa do disco é mais um trabalho minimalista do designer Peter Saville. Há apenas as inscrições "New Order", "Substance" e o ano 1987, escritos em fonte preta sobre fundo branco. Em 1989, foi lançado um VHS (mais tarde também saiu em LaserDisc) com o mesmo nome, com os clipes da banda até a época. O design foi mantido, mas com fundo cinza e as letras brancas dizendo 1989 em vez de 87. Na versão japonesa, o fundo é azul e na lançada no formato LaserDisc, era azul-turquesa. Entre os clipes, animações com a música "The Happy One", ao fundo. Esta música, instrumental, foi retirada das sessões do disco Technique, de 1989.

(texto por Expedito Paz)

A extinta (até quando?) revista Bizz, em sua edição de junho de 1988, trazia o New Order na capa e uma resenha da coletânea, que reproduzimos abaixo:

SUBSTANCE - New Order (WEA)
"É incontestável a importância do New Order no panorama musical desta década. Uma banda que conseguiu assimilar o trauma causado pelo fim do Joy Division, com a morte do vocalista Iam Curtis, impondo um estilo próprio que assimilou a tecnologia dos samplers e drummachines com simplicidade e inspiração; um grupo que. pouco a pouco, foi lapidando a energia primitiva e a atmosfera sombria do som do Joy em timbres elaborados e batidas dançantes, conseguindo alcançar sucesso comercial sem renegar seu passado ou fazer concessões em sua imagem ou proposta sonora. Substance é a segunda coletânea de singles lançada pela banda (a primeira foi o LP 1981-1982) e traz doze faixas remixadas, que compreendem o período de 1980 a 87. Temos então um desfile de pérolas, que começa com "Ceremony", música do Joy que foi uma das primeiras a ser gravada pelo New Order; passa por "Blue Monday", que tomou-se um de seus grandes sucessos comerciais, assim como "Perfect Kiss"; "Bizarre Love Triangle" e a única inédita, "True Faith". Quando do lançamento de Substance, rumores sobre a dissolução da banda prenunciavam que este álbum seria seu epitáfio, mas os boatos foram afastados com um single e planos de um novo LP. A nova ordem continua..." (Celso Pucci)


Na mesma edição, a Bizz trazia uma matéria chamada "New Order - O Mais Fino Sabor de Manchester", com uma longa entrevista do jornalista Pepe Escobar com o que, na época, equivalia a três quartos da banda: o baixista Peter Hook, o baterista e programador Stephen Morris e a tecladista e programadora Gillian Gilbert (faltou o vocalista, guitarrista e tecladista Bernard Sumner) - todos numa estação de trem! - discorrendo sobre a carreira da banda até então, métodos de produção, a famosa aversão da banda a shows (na época, cada show do New Order tinha um setlist completamente distinto, e a banda não fazia concessões. Sorte ou azar do espectador se ele ouviria os hits na apresentação!) e falando até sobre o então cenário musical. Stephen Morris, perguntado sobre o que ele achava interessante, disse "Ah, eu posso dizer o que eu NÃO considero interessante: o novo single dos Sugarcubes (nota do editor: Sugarcubes era uma banda islandesa que revelou ao mundo a cantora Björk). Yeachh!"


BIZZ - junho de 1988

NEW ORDER - O MAIS FINO SABOR DE MANCHESTER


Desde o mês passado, eles já estão em estúdio preparando o novo álbum, antes dele, sai o primeiro solo de Bernard Summer - com participação de Johnny Marr, enquanto isso, escala as paradas americanas o remix "Blue Monday ´88", executado por Quincy Jones, estas são as ultimas novas, antes de telexá-las, Pepe Escobar já tinha batido um longo papo com três quartos da banda independente que mais vende discos no planeta

"Oh, Manchester, quanto tens por responder..." O verso é de Morrissey, quando ainda estava começando a exorcizar suas fantasias de quarto solitário em cima de James Dean, Oscar Wilde, impérios perdidos, lama e glória. O trem Londres - Manchester avança a 140 km/h e passa pela cabeça não só uma história condensada do pop inglês quanto um countryside absolutamente entediante. Em uma estação deprê-total, puro detrito da Revolução Industrial, comento com minha fotógrafa: "Como é que alguém pode morar em MacClesfield?"

Meia hora depois, na gloriosa Piccadilly Station de Manchester, fico sabendo que metade do New Order, Stephen Morris e Gillian Gilbert, mora em MacClesfield. Gillian até passou batom, sombra e rímel para essa entrevista histórica. Peter Hook - com o heavy metal look já abandonado - nos recepciona. Em puro Manchester style, ou seja, qualquer nota, a entrevista é na própria lanchonete da estação. com chá em copinho de plástico e um hominho passando de vez em quando vendendo o Manchester Evening News.

Bernie Albrecht não veio. Não exclusivamente porque esteja gravando seu álbum solo (isso é para mais tarde): Não veio também porque está dedicando-se ao sócio. New Order, depois do sucesso de "True Faith" e Substance, dedica-se a um relativo ócio, interrompido por um jamming de onde sairá o próximo LP. No warm up para a entrevista, descobrimos que Gillian Gilbert não fala (igual a Lady Di) e Stephen Morris é fissurado em tiradinhas cínicas. Peter Hook cai de pau nos japoneses, nos americanos (todos invariavelmente idiotas), diz que jamais moraria em qualquer outro lugar além de Manchester. Anuncia que não conhece música brasileira. Mas comenta como ficou impressionado ao saber a quantidade de discos - e a popularidade - de uma "cantora brasileira negra" (viu em um programa de TV; não lembrou o nome da cantora). Para Mr. Hook, o Brasil é uma curiosa fantasia que lhe remete a generais da SS e gente comendo restos de lata de lixo enquanto as limusines passam á côté.

New Order, claro, não vai se dissolver. Sua preocupação é com o novo status de quase superbanda mundial. Preferem não entrar em detalhes no (ainda) delicado assunto Ian Curtis. Ao final da entrevista na lanchonete. New Order pagou a conta e deixou seus três autógrafos para a escocesa da caixa, que quase teve um colapso.

Peter nos convidou para a noite de hip hop no mítico Hacienda, também conhecido como Fac 51 (o 51.º produto saído da Factory Records). À tarde, refizemos os itinerários ur e suburbanos de Morrissey, incluindo a desolada Strangeways (está no título do último LP dos Smiths). Manchester é a cidade ideal para incitar qualquer alma ao suicídio. As duas únicas exceções ao tédio terminal são alguns pubs de subúrbio - com faces dignas de entrar na História da Pintura - e a trilha sonora do Hacienda - extra-acid house e extra-heavy remixes de DJ. Os locais são extremamente delicados - ao contrário dos ingleses - e não costumam posar - ao contrário dos ingleses. Em uma medida da finesse de seus acionistas, New Order não toca no Hacienda.

BIZZ - Para começar. New Order nunca se interessou muito em falar com a mídia - o que por um lado pode ser muito saudável.

Stephen - Mas nós falamos com todo mundo...

Peter - Há uma diferença entre falar e se construir uma imagem de pop star. Isso quem faz são os outros, não nós.

BIZZ - Muita gente refere-se a New Order - como antes ao Joy Division - como "o som de Manchester". Como vocês se relacionam com a cidade? Como ela impregna o que vocês fazem? A quela história do homem como produto do meio ambiente...

Peter - Eu ando muito pela cidade. Mas Stephen vive em MacClesfield. Acho que é a mesma coisa em qualquer lugar que você vive, não é? Não sinto necessidade de subir em um caixote e pregar as virtudes de Manchester.

BIZZ - Morrissey construiu uma espécie de mitologia própria de Manchester - e é interessante comparar com o approach de vocês, completamente diverso...

Peter - Para ser honesto, acho que ele merece. Ele não é assim tão bom. Não é tão mau, mas não é tão bom. Há coisas interessantes onde quer que você vá. No Brasil, por exemplo, gente se alimentando de latas de lixo ao lado de limusines.

BIZZ - Vocês sofreram alguma influência forte do american way of life, ou dos valores americanos, depois que começaram as tours constantes?

Peter - Os americanos são um pé no saco a maior parte do tempo. Nós tínhamos tantos problemas antes, quando não tínhamos um contrato de distribuição na América, quanto hoje, que temos o contrato. Na maior parte do tempo, eles se comportam como galinhas com um lenço na cabeça. Certamente isso não me provoca a pensar na "terra do futuro"

BIZZ - No inicio vocês eram uma cult band para um grupo seleto de pessoas. Hoje são uma banda extremamente popular, até mesmo nas pistas de dança de todo o planeta.

Peter - Eu nunca entendi essa história de cult. Uma cult band é quando você está tentando fazer sucesso, não tem atenção de mídia, e é muito difícil para alguém que não mora em Manchester ouvir falar de você. Mas de repente todo mundo em Manchester ouviu, os amigos se telefonam, o barulho aumenta, e todo mundo ouviu falar de você antes da imprensa.

BIZZ - Mas nos primeiros tempos de New Order havia uma espécie de sociedade secreta em Londres, no Brasil, na Malásia, gente que realmente cultuava vocês como the real thing...

Peter - Mas isso eu acho que sempre vai acontecer a quem faz boa música. Sempre que você escuta um bom disco, vai falar para seus amigos. E essa banda vira uma cult band entre vocês, ou no seu bairro.

BIZZ - Vamos pegar alguns pontos nesse aspecto. Martin Hannett realmente ensinou vocês a produzir discos?

Stephen - E, ensinou a não colocar muitos músicos em um estúdio (risos).

Peter - Na época, nós éramos muito jovens para apreciar o seu trabalho. O negócio é que ele não gostou muito do que ele passou junto com a gente. Produzir é um dos piores trabalhos do mundo. Ficar convivendo só com músicos... (risos).

BIZZ - Vocês começaram a produzir seus próprios discos em 83, não é?

Stephen - Logo depois de Martin. Nós achávamos que podíamos fazer melhor do que ele (risos).

Peter - Ambição... até que não é uma coisa ruim, ambição. Contanto que esteja dirigida para o lugar certo.

BIZZ - Como vocês toparam com "Blue Monday"? Foi um acidente brincando com drum machine?

Stephen - A gente estava roubando um riff de bateria de Donna Summer (risos). Não sabemos exatamente como foi.

BIZZ - Um acidente planejado?

Peter - Bernard é que estava interessado em toda a cena de dança. Stephen arrumou uma drum machine. Os dois se juntaram... Mas não foi a primeira que fizemos assim.

Stephen - Mas essa foi a primeira drum machine que dava para programar no tempo real. Não foi a primeira música em que usamos drum machine. Qual foi? (Os dois ficam trocando figurinhas tentando lembrar.)

BIZZ - "Decades" era com drun machine, não?

Stephen - Sim, mas foi uma antes.

Peter - "Isolation".

Stephen - Não... Mas foi ainda com o Joy Division.

Peter - Nós já tínhamos usados sintetizadores há bastante tempo, com o Joy Division.

BIZZ - Mas aí vocês começaram a explorar ritmos mais dançantes.

Stephen - (lembrou) - "The Eternal."

Peter - O ponto, em tudo isso, é que a tecnologia se desenvolveu muito. Quando estávamos no Joy Division não havia máquinas. Havia uma drum machine, mas estava caindo aos pedaços. Na hora em que chegamos a "Blue Monday" e Power, Corruption and Lies, já conhecíamos e entendíamos um pouco de tecnologia.

Stephen - Sintetizadores polifônicos, não tinha nada disso. E nas drum machines só tinha aquelas teclas "samba", "mambo"... Poderia ter dado muito certo no Brasil!

BIZZ - Vocês foram uma das primeiras batidas brancas a trabalhar com hip hop. Vocês foram atrás de Arthur Baker? Ou ele os procurou?

Stephen - E, um amigo meu conheceu Arthur Baker em Nova York e ele disse que queria fazer alguma coisa conosco. Nós aceitamos, mesmo porque estávamos querendo passar uma semana em Nova York. Então escrevemos uma musica...

Peter - O gozado é que deveria ser um remix de "Blue Monday", não é?

Stephen - Uma coisa era isso, e a outra era "Five Eight Six". Depois tudo virou uma história muito enrolada.

Peter - E o que ele fez naquele "Confusion" não soa melhor do que a nossa versão em Substance...

BIZZ - Isso nos leva a outro ponto: vocês conseguem manter completo controle sobre todos os aspectos da marca New Order, como as capas de disco, os vídeos, o material de promoção? Vocês supervisionaram tudo?

Peter - Nós costumávamos, antes. Mas desde que começamos a fazer, entre aspas, sucesso, não dá tempo. E as pessoas agora acham que elas sabem melhor do que nós mesmos o que é melhor para a banda. Por causa do sucesso de "True Faith", todo mundo fala: "O que vier agora tem que ser como ´True Faith´, tem que fazer tanto sucesso"... Nós nunca tivemos esse tipo de pressão antes. A gente podia até querer fazer um... Metal Machine Music...

BIZZ - Muitas pressões de gravadora?

Peter - De todo mundo. E agora estamos rodeados por muito mais gente. E tem a América...

BIZZ - "True Faith" foi quase um choque para Vocês, um big break que de repente os jogou quase para a liga das bandas que tocam em superestádios. Foi um choque? Ou foi um problema?

Peter - Nós não temos realmente problemas no momento. E só que tem havido uma mudança gradual - nós temos tido cada vez menos tempo para cuidar de muito mais coisas. Mas isso não nos mudou. Em nada.

Stephen - Se eu tivesse mudado, o nosso próximo disco seria um outro "Blue Monday". Ou "True Faith, part 2". É isso que as pessoas querem fazer em gravadoras - para poder continuar com o mesmo tipo de atividade promocional. Se a gente fizesse isso, seria muito chato...

BIZZ - No correr do tempo, houve uma transformação marcante no conteúdo de suas letras, junto com a forma. É só comparar, por exemplo, "You Silent Face" com "The Perfect Kiss", "Thieves Like Us" Elas eram mais melancólicas, no início, e depois foram virando algo como love songs.

Peter - É difícil para mim descrever por que mudou. Acho que ficou mais fácil compor - talvez pelo fato de que Bernard esteja compondo há um bom tempo. Basicamente, quando nos começamos, alguém dizia: "Escrevam letras, escrevam frases para os vocais". Nós não sabíamos como. Sempre deixamos isso com Ian. Acho que aprendemos. Por que Barnie canta canções de amor, eu não sei. Você tem que perguntar para ele.

Stephen - E um dos temas mais fáceis por ai, não?

BIZZ - Ele escreve todas as letras sozinho?

Peter - Quando ele está inspirado, faz por si só - o que não é muito comum. Se não, fazemos todos juntos.

Stephen - Geralmente ele vem com um verso e o refrão e nós nos reunimos e "cobrimos os buracos"...

BIZZ - Voltando a um ponto: no início o som de vocês era mais tortuoso e torturado - depois foi abrindo-se para "mais luz´´. Vocês ate chegaram a colocar seus próprios rostos em uma capa de disco...

Peter - Será que nós ficamos melosos?... Você muda à medida que envelhece, ganha mais experiência.

Stephen - Acho que isso vale para a música em geral. Antes a música de alta energia era sinônimo de guitarras vistosas. Hoje a energia está com uma drum machine a 156 batidas por minuto, a música é mais dançável, mais orientada para a batida.

Peter - E outra: a tecnologia, hoje, te dá a chance de poder ouvir uma bateria como se deve. Você procura o som de bumbo na mixagem de discos antigos e não consegue encontrar!

BIZZ - Falando de ritmos, às vezes aparecem com algumas coisas cuja proveniência provavelmente desconhecem. Um exemplo: no mix de "Bizarre Love Triangle" há um padrão de batida que é puramente brasileiro, o que lá chama-se "batucada".

Stephen - (sorrindo) Sabe como a gente fez isso? Nós botamos os arpejos no Emulator e apertamos cinco teclas, dois compassos, e só. Não foi programado para soar assim. Era um jeito de fazer um outro tipo de percussion break. Soava bem.

BIZZ - Como é seu processo de composição? Vem, basicamente, de jams?

Peter - É, tudo nasce mais ou menos de uma jam. Idéias que vão tomando forma. Nenhum de nós costuma vir com uma música pronta. É um processo lento. Cada música nossa leva um longo tempo de elaboração. Sempre passamos pela fase em que todas as músicas têm o mesmo som. E aí começa - como fazer para elas terem cada uma sua personalidade. E elas tendem a ser no mesmo tom...

BIZZ - Vocês tem problemas com tonalidade?

Stephen - Nós não temos problemas, o negócio é que nunca precisamos saber do que se trata. Não é importante.

Peter - O problema começou quando vimos que algumas musicas eram fáceis para Barnie cantar, e outras muito difíceis. Alguém falou: "Deve ser o tom"... E nós: "Que tom?"

Stephen - Não é preciso ter conhecimento de música para ter uma banda.

BIZZ - Quais eram as suas influências musicais, ainda na época do Joy Division? Se é que tinham alguma.

Peter - Pessoalmente, eu ouvia heavy metal quando tinha 16 anos. Costumava ir urna vez por semana à disco... Só comecei a tocar guitarra com 21 anos, um pouco tarde. Foi Ian que realmente nos educou, eu e Barnie. Ele trazia todos aqueles discos e dizia "escutem só isso, Lou Reed, Velvet Underground, Doors, é muito bom". Nós nunca tínhamos ouvido. Tivemos nossa educação musical com Ian, porque eu consumia tudo em disco.

Stephen - O que estava acontecendo na época era Low, The Idiot, Roxy Music, isso que a gente ouvia era o que nos influenciava.

Peter - Nós começamos mais com a idéia de "tirar uma lasquinha" nessa história de ser rebeldes. Não tínhamos desejos de fazer uma música maravilhosa. Nós só queríamos ser notados.

BIZZ - Isso que vocês sempre tiveram, de fazer as coisas por si próprios, essa ética, pode-se dizer que está relacionada com o espírito punk?

Peter - Deveria estar relacionada, realmente. Nós temos isso até hoje, e sempre tivemos a oportunidade de nos satisfazer, junto com Rob, nosso manager. Sempre trabalhamos com um grupo de cinco pessoas. Com Joy Division, nós estávamos a um passo de assinar com um grande selo, o Genetic, de Martin Rushent; e a única coisa que era motivo de discussão, naquele ponto, era o inevitável dinheiro. Nós achávamos que assinar com a Genetic, que tinha muito dinheiro, era a única coisa que a gente podia fazer. Mas aí Tony ( Wilson, da Factory) e Rob reuniram-se e decidiram: "Vamos soltar um LP nós mesmos, independente, pela Factory". E foi isso. Só porque Unknown Pleasures tinha feito sucesso local, não quer dizer que a gente estava ganhando dinheiro. Dava apenas para sobreviver. Claro que esse tipo de arranjo não funcionou na América. A América é grande demais.

BIZZ - Vocês têm idéias similares no que concerne a turnês de vários meses e a passar muito tempo em estúdio?

Stephen - Nós não fazemos turnês longas. Nós passamos, isso sim, muito tempo em estúdio. As turnês são sempre uma decisão pessoal - vamos fazer ou não. É bastante democrático. Quando ficamos no estúdio por dois meses, dá vontade de sair e tocar. E aí vemos: ´´Mas é só isso? , e já queremos fazer outra coisa.

Peter - Mas a coisa chegou a um ponto tal que, depois de lançarmos o próximo disco, poderíamos decidir ficar cm casa, e não promove-lo. Apesar de tudo, ainda estamos no ponto de fazer o que nos dá na cabeça.

BIZZ - E quanto ao Hacienda: vocês ainda são acionistas?

Peter - É, ainda somos acionistas, espiritualmente... Nós estamos abrindo uma outra casa, um bar-restaurante.

BIZZ - O Hacienda dá dinheiro? Andou tendo problemas, não?

Peter - Sobrevive. Afinal, sobreviveu cinco anos. Tivemos que acabar com os shows ao vivo e fazer só disco. Show não dava mercado no Hacienda, não é o tamanho certo. E meio frustrante, porque nós surgimos como uma banda em shows ao vivo. Seria legal dar a Manchester um lugar para shows, mas Manchester foi por outro caminho: garotos só querem grandes bandas internacionais...

BIZZ - Public Enemy, quando esteve aqui, proclamou Manchester como "a capital mundial do hip hop".

Stephen - Com hip hop parece que estão sempre tocando o mesmo disco. Mas eu acho que é o mesmo a "capital mundial etc.".

Peter - Sábado tem uma grande noite de house music, também. Hip hop na sexta. Não sou seu fã em particular. Para mim tudo tem o mesmo som.

BIZZ - Mas vocês não se interessam pela maneira com que usam colagem, cut ups? Afinal, vocês utilizam uma série de colagens - de uma outra maneira - em seus mix.

Peter - Acho interessante, mas não acho que vá durar muito tempo. Ouvi unia banda muito boa recentemente, Soho, e gostei da maneira como fazem o amálgama de uma série de canções. Foi uma das únicas coisas que ouvi em séculos que me chamou a atenção.

BIZZ - Gillian, é você que coordena toda a sintetização eletrônica no New Order? Se não, como você organiza a massa de teclados?

Gillian - E meio difícil condensar tudo em cinco minutos. Quando nós começamos, usávamos máquina simples, fáceis de programar. Eu programava. Barnie me ajudava em alguns fraseados. Depois foi ficando mais complicado, tomando mais tempo, e contratamos alguém para programar para nós. Eu me concentrei em escrever. Temos também uma estrutura diferente da que usamos em ensaio. Em vez de levar todo o equipamento para turnês, condensamos tudo em dois samplers, o que facilita muito ao vivo, em controle. O problema é que há uma série de programas para se tomar conta, e você tem que organizá-los mentalmente. Eu tenho, geralmente, cinco minutos entre uma música e outra para mudar os programas - enquanto estou tocando tenho que manter a atenção nisso também.

BIZZ - Essa mecanização atrapalha?

Gillian - Não, nós seqüenciamos tudo. Em algumas músicas, por exemplo, eu tenho que tocar a linha de baixo, ao mesmo tempo que guitarra, então seqüenciamos o baixo.

BIZZ - Como vocês vêem o fato de que o New Order eletrônico é muito mais melódico do que o New Order acústico? E vocês tem um feeling fabuloso para melodias que "pegam". É geral, vem de um lado de vocês particular?

Peter - Acho que vem de todos nós. Por que o material eletrônico é mais melódico, não sei... Acho que nós evoluímos, basicamente...

BIZZ - Vocês odeiam dar bis ao vivo. Por quê?

Peter - Eu suponho que a razão principal seja o fato de que nunca gostamos muito de tocar ao vivo. Hoje até que damos mais, mas pessoalmente acho que é um pouco redundante. Você trabalha duro para tocar seu sei, e isso é o que basta. Isso também tem a ver com minha desilusão em ver bandas, como Echo & the Bunnymen, que têm tudo planejado, até mesmo as encores. Nós não fazemos isso nem com os seis...

BIZZ - Os rumores continuam de que vocês iam, iriam ou podem vir a tocar no Brasil?

Peter - Nós já fomos convidados para tocar no Brasil três vezes. Nós deveríamos estar naquele festival com Duran Duran. Mas o Simply Red é que terminou indo. Acho que o agente deles é mais esperto do que o nosso...

BIZZ - Há alguma coisa na cena musical atual que vocês considerem particularmente interessante?

Stephen - Te digo o que não considero interessante: o novo single dos Sugarcubes. Yeachh!

Peter - Nada... Ouvi ontem um programa de country & western... Isso é interessante. E muito difícil ser "novo" nos dias de hoje.

BIZZ - A culpa é dos conglomerados e de produtores que têm um só som na cabeça - cuja equação é produto de jogadas de marketing?

Peter - E, é isso. Uma pena. Mas pelo menos tem O outro lado: alguém pode comprar um computador e começar a - "fazer música". E a definitiva atitude punk. Nada mais e sagrado. Você pode fazer o seu disco soar tão bem produzido quanto Stock, Aitken e Waterrnan.

BIZZ - Só um detalhe: vocês são contra as leis de copyright?

Stephen - Sampling? Não. Somos uma das bandas mais pirateadas do mundo. Se a gente exigisse copyright de " Blue Monday´ -, estaríamos milionários.

Peter - Tinha um disco no "Top of the Pops´´ ontem à noite, acho que era "S-Express", com um break bem, bem velho, de Barry White ou algum outro, e a garotada hoje (14, 15 anos) não sabe, pensa que é alguma coisa nova. Nós falamos "o que é isso, eu ouvi esso som há quinze anos!" Não tem nada de mais. Quem defende essas leis é gente ambiciosa, avarenta. Stock, Aitken & Waterman, esses caras têm quatro Ferraris, oito jaguars e ficam choramingando porque alguém usou dois segundos de um de seus discos. E patético. E eles roubaram de todo mundo

Stephen - Todo mundo é influenciado por todo mundo. Muitas vezes começávamos a querer fazer cover versions, mas aí terminávamos escrevendo uma música. Nós descobrimos, por nós mesmos, que é muito mais fácil escrever do que fazer covers, pegando um riff daqui, outro dali...





---------------

DOWNLOADS

Não poderia faltar os downloads, que disponibilizamos para vocês. Este post foi elaborado por Expedito Paz, e ele, como um grande fã de New Order, upou um grande conteúdo que você não pode perder. O link para a biblioteca de arquivos é:

http://expeditopaz.4shared.com

Lá você encontrará:

- B-Sides & Rarities:
Behind Closed Doors
Best and Marsh (7" edit)
Best and Marsh
Confusion (original 12")
Cries and Whispers (no disco Substance, está creditada como Mesh)
Exit (da trilha do filme Control)
Haystack
Here to Stay (da trilha do filme 24 Hour Party People)
Hypnosis (da trilha do filme Control)
The Peter Saville Show Sountrack (trilha sonora de uma exposição de arte)
Let´s Go (Nothing On Me)
Mesh
Player In the League
Sabotage (da trilha de Salvation)
Skullcrusher (da trilha de Salvation)
Sputnik (da trilha de Salvation)
Such a Good Thing
Temptation ´98
The Happy One
Video 586 (instrumental experimental de 1982)
Vietnam (versão para música de Jimmy Cliff para um disco beneficente)

- Live in Rio 2006

Intro
Crystal
Regret
Ceremony
These Days
Transmission
Krafty
Waiting for the Sirens´ Call
Your Silent Face (também conhecida como KW1)
Turn
True Faith
Bizarre Love Triangle
Temptation
The Perfect Kiss
Blue Monday
She's Lost Control
Love Vigilantes
Love Will Tear Us Apart

- Remixes

60 Miles an Hour (David Kahne mix)
Age of Consent (Howie B. mix)
Blue Monday'88 (12")
Blue Monday (Hardfloor mix)
Confusion (Pump Panel Reconstruction mix)
Crystal (Silicon Sex mix)
Fine Time (Messed Around mix)
Guilt Is a Useless Emotion (Mac Quayle Extended Mix)
I Told You So (3 mix)
Krafty (The Glimmers 12" extended mix)
Love Vigilantes (extended)
Mr. Disco (Razormaid mix)
Paradise (remix)
Regret (Sabres Fast 'n' Throb mix)
Regret (The NewOrder mix)
Regret (Fire Island mix)
Round & Round (extended)
Ruined in a Day (K-Class mix)
Run Wild (Steve Osbourne original mix)
Spooky (minimix)
Temptation (Secret Machines Remix Full Length)
True Faith (Shep Pettibone mix)
Waiting for the Sirens' Call (Jacknife Lee mix)

- Rock Around the Clock (mini-show de meados dos anos 80)

Sooner Than You Think
Age of Consent
Blue Monday
In a Lonely Place
Temptation

- Vídeos

Blue Monday (NME Awards 2005)
Krafty (NME Awards 2005)
Love Will Tear Us Apart (NME Awards 2005)
NME Awards 2005 - introdução
Here to Stay (live at Top of the Pops)
Transmission (ao vivo em 2002, especial para John Peel)


E caso você tenha curtido a entrevista que postamos acima, pode fazer o download dela:

Revista Bizz 1888 - New Order


Bem, enfim, é isto por hoje. O tão esperado post de New Order é este. Obrigado Expedito, por nos fornecer um conteúdo rico e bem diversificado.

And we would like to thank all the fans around the world who visit us. Therefore I wish a huge "Cheers, mate!" to all of those who are helping us to be known worldwide. That's our purpose: to spread good music. And with your help we'll keep on posting that. Thanks!