domingo, 18 de novembro de 2007

Stereophonics - Rock Am Ring (2003)

Mais um post sobre Stereophonics, com um texto mais elaborado e um show em vídeo para vocês.

O Stereophonics não é uma banda que tem uma enorme legião de fãs brasileiros, mas desde seu surgimento, no final dos anos 90, vem tendo uma consistente carreira de singles e álbuns de sucesso no Reino Unido, com um som calcado na melhor escola do britpop, só que vindo do País de Gales, mais precisamente da cidade de Cwamaman.

Kelly Jones (nascido em 3 de junho de 1974; vocais, guitarras, teclados), Richard Jones (nascido em 23 de maio de 1974 e sem parentesco com Kelly; baixo, vocais) e Stuart Cable (nascido em 19 de maio de 1970; bateria) se conheciam desde a infância, e após períodos com outras bandas, como o Zephyr, que surgiu em 1985, quando Kelly tinha apenas 11 anos, e o Silent Runner, que basicamente tocava covers em pubs nos arredores de Cwamaman.

O Silent Runner durou até o começo dos anos 90, até que Kelly e Richard recomeçaram a compor e tocar juntos em 1992, como uma banda cover chamada Blind Faith, só que eles descobriram que Eric Clapton já havia tido uma banda com este nome, daí mudaram para Tragic Love Company. O nome vinha de uma junção dos nomes das bandas favoritas dos três: Tragically Hip (banda canadense), Mother Love Bone (banda de Seattle que acabou dando origem a Pearl Jam e Soundgarden, dois ícones do grunge) e Bad Company (antiga banda de hard rock britânica). Alternando material próprio com covers, a banda começou a reunir uma pequena, mas fiel base de fãs em Gales, e gravações de fitas demo atraíram a atenção de várias gravadoras, e Kelly também começava a chamar a atenção por seu estilo único, tanto de cantar e tocar como de se vestir. Num show em 1996, em Newport, o vocalista encontrou um casaco de peles e usou no show. A partir daquele momento, o que era apenas um líder de banda caminhava para ser um típico rockstar.

Com o assédio das gravadoras, os integrantes resolveram mudar o nome da banda, e adotaram o nome Stereophonics, tirado da marca do aparelho de som da avó de Stuart Cable.

Em 1996, a banda finalmente assinou com o selo V2, pertencente a Richard Branson (magnata dono da Virgin), que queria apostar em bandas novas. No final daquele ano, saiu o primeiro single, "Looks Like Chaplin". Mesmo lançado em edição limitada, o disco atraiu atenção da mídia, especialmente pela voz marcante de Kelly Jones e por suas letras retratando o cotidiano da vida em cidade pequena, e a banda ganhou espaço abrindo shows para artistas como Manic Street Preachers, Ocean Colour Scene, Skunk Anansie e até mesmo o The Who.

Em março de 1997, o segundo single do Stereophonics, "Local Boy in the Photograph", foi lançado e chegou ao posto 51 na parada de singles britânica. A banda seguia trabalhando duro e nos meses seguintes, fez mais de 100 shows.

Em agosto do mesmo ano, Word Gets Around, primeiro álbum da banda, saiu e chegou ao sexto lugar na parada de singles britânica, e com o passar do tempo alcançou disco de ouro. Mais três singles foram extraídos dele: "More Life in a Tramps Vest" (posição 33), "A Thousand Trees" (posição 22) e "Traffic" (posição 20). Ainda rolou um relançamento de "Local Boy in the Photograph", que chegou ao 14º posto.

O sucesso havia chegado, e o reconhecimento veio no ano seguinte, quando o Stereophonics recebeu dos ouvintes da BBC Radio 1 o Brit Award como "Melhor Banda Nova do Reino Unido", em 1998.

O começo de 1998 foi de mais turnês, com a banda tocando pela Europa, fazendo alguns shows também nos EUA e até mesmo na Austrália. E em junho daquele ano, a banda faria seu maior show até então, no Cardiff Castle, no seu País de Gales natal: 10 mil espectadores. O show foi lançado em vídeo tempos depois.

No fim do mesmo ano, a banda lançou o single "The Bartender and the Thief", primeira obra extraída do segundo álbum, e que chegou ao terceiro lugar na parada de singles. O álbum, lançado pouco tempo depois, chamava-se Performance and Cocktails. Se o som da banda seguia o mesmo britpop com influências de hard rock, nas letras saía o estilo "sou de uma cidade pequena e minha vida aqui é assim" para "ei, nós saímos de uma cidade pequena e agora somos rockstars! Vamos aproveitar pra contar nossas histórias!". O disco estreou direto no número 1 da parada de álbuns britânica, e jogou a popularidade e a moral dos Stereophonics para o céu. A banda passaria o resto daquele ano e o início de 1999 em uma extensa turnê pelo Reino Unido, enquanto lançavam mais singles, todos bem-sucedidos: "Just Looking" e "Pick a Part That's New" alcançaram o quarto posto dos charts de singles, enquanto "I Wouldn't Believe Your Radio" e "Hurry Up and Wait" chegaram ao 11º posto. O ponto alto da turnê foi um show no Morfa Stadium, em Swansea, no dia 31 de julho. O estádio seria demolido tempos depois.

No ano 2000, a banda deu uma parada para escrever o terceiro disco. Nenhum single novo foi lançado, exceto uma colaboração deles com a lenda Tom Jones (histórico cantor galês), com quem gravaram uma cover de "Mama Told Me Not to Come", de Randy Newman. A música está em singles e no álbum Reload, do crooner galês.

Neste mesmo ano, Kelly Jones entrou em uma pequena turnê solo acústica, tocando basicamente as novas canções do Stereophonics e alguns hits antigos, sempre em locais pequenos, mas lotados. Esta turnê gerou boatos de que a banda acabaria, mas Kelly sempre dizia que tudo era bobagem. No show em Dublin, Kelly contou com a participação de Gem Archer e Noel Gallagher, do Oasis, e em Cardiff, reuniu os Stereophonics e disse "é como rever velhos amigos novamente".

No fim daquele ano, a banda foi mixar seu terceiro álbum em Nova York, e apareceu em alguns programas de TV, especialmente na MTV, com uma formação acrescida de Scott James nas guitarras e Tony Kirkham nos teclados, para dar suporte às canções nos shows, que tinham uma maior intensidade melódica que os trabalhos anteriores

Em março de 2001, saiu o primeiro single do novo álbum, "Mr. Writer". A música, que fala sobre jornalistas que escrevem inverdades sobre as bandas, apareceu em quinto lugar na parada de singles britânica, e o álbum, lançado tempos depois, chamou-se Just Enough Education to Perform, ou simplesmente J.E.E.P. A sigla não pôde ser usada como nome oficial porque a Daimler/Crysler, detentora da marca Jeep, ameaçou a banda de processo. O disco foi, mais uma vez, primeiro lugar direto na parada de álbuns, e alavancou ainda mais a carreira da banda, que passou a fazer shows em locais maiores, para mais pessoas.

O disco alcançou enorme sucesso, com o novo single "Have a Nice Day", que tinha uma linha melódica mais leve em relação ao trabalho anterior da banda, se tornando o símbolo desta fase. O grupo celebrou a turnê com shows em locais como o autódromo de Donington Park, o Slane Castle (em Dublin, para 80 mil pessoas) e, finalmente, no Millenium Stadium, em Cardiff. Este show, no dia de Natal, curiosamente, teve como uma das bandas de abertura o Ocean Colour Scene, que anos antes teve shows abertos pelo Stereophonics. Em paralelo, a banda ainda fazia shows em locais menores, em cidades como Edimburgo e Bristol.

Os outros singles extraídos do disco J.E.E.P. foram "Step On My Old Size Nines" (16º no singles chart), "Handbags and Gladrags" (uma cover de Rod Stewart, que atingiu o quarto lugar) e "Vegas Two Times" (23º lugar).

Em 2003, a banda já lançava um novo álbum, chamado You Gotta Go There to Come Back, que mais uma vez estreou direto no primeiro lugar do chart de álbuns. O primeiro single, "Madame Helga", chegou ao quarto lugar da parada de singles, e "Maybe Tomorrow" alcançou o terceiro posto, mas Kelly Jones e cia. não fizeram uma turnê extensa desta vez. Pequenas aparições em festivais e uma turnê exclusiva para o fã-clube foram o suficiente, além de alguns shows em festivais pela Europa.

Em setembro daquele ano, a banda sofreu sua primeira baixa na carreira. Kelly Jones, argumentando falta de compromisso, diferenças musicais e problemas de saúde, demitiu o velho amigo e baterista Stuart Cable. Para a turnê americana daquele ano, a banda recrutou Steve Gorman, ex-baterista do Black Crowes, para tocar com eles durante o resto da turnê, incluindo mais um evento com casa lotada no Millenium Stadium, em Cardiff.

No final de 2003, mais um single extraído de You Gotta..., "Since I Told You It's Over" foi lançado, atingindo o 16º lugar.

Em fevereiro de 2004, o álbum foi relançado, com o acréscimo da canção "Moviestar", que também foi single, chegando ao quinto posto. Esta foi a última canção gravada com Stuart Cable na bateria.

Ao longo do ano, a banda seguiu fazendo shows, seja abrindo para David Bowie nos EUA, ou sendo atração principal em festivais como o da Ilha de Wight, na Inglaterra. E no fim daquele ano, "Maybe Tomorrow" voltou às paradas, graças a inclusão na trilha sonora do vencedor do Oscar de Melhor Filme, Crash.

Entre o fim de 2004 e o início de 2005, Kelly, querendo passar mais tempo com a família e aproveitando o nascimento de sua filha Lolita, resolveu escrever as músicas do novo disco no estúdio Sahara Sound, em Londres, onde escreveu as músicas para um novo álbum, e recrutou o argentino Javier Weyler (nascido em 3 de julho de 1975) para o cargo de baterista, após algumas frustradas tentativas de trabalhar com uma bateria eletrônica. O resultado desse trabalho foi um disco de volta às origens rockers: Language. Sex. Violence. Other? saiu no início de 2005, com o primeiro single, "Dakota", alcançando a primeira posição na parada de singles, alavancada por um clipe simples, mas bem "energético". Pra termos noção da moral dos caras, o Coldplay, que é uma banda teoricamente bem mais famosa, nunca conseguiu emplacar um single no número 1. Depois do lançamento do disco, a banda iniciou uma turnê de pequenas proporções, tocando em locais para 300 pessoas, num clima, como dizem alguns, "intimista".

Depois de "Dakota", os outros singles de Language... foram "Superman" (13º lugar), "Devil" (11º lugar) e "Rewind" (17º lugar). Ainda em 2005, a banda tocou no festival Live 8, em Londres, para seu maior público até hoje. A banda estava com uma série de shows junto com o Oasis naquela época, mas os eventos foram cancelados para Kelly e cia. passarem mais tempo com suas famílias. De acordo com o líder da banda, "estava num ponto de minha vida onde eu precisava quebrar o ritmo gravações-turnês-gravações-turnês, porque não conseguia mais ser criativo, nem revigorante, nem nada. Quando você está na estrada, não tem tempo de relaxar, então você acaba desorientado. E ter o foco em alguma coisa que não seja você mesmo faz você perceber o que é realmente importante na vida. E tempo é precioso demais".

Em 2006, a banda lançou o álbum duplo Live from Dakota, com 20 faixas ao vivo com repertório oriundo de todos os álbuns anteriores. Para selecionar o material do disco, a banda gravou todos os shows da turnê de Language. Sex... e escolheu as melhores versões. O disco ainda conta com uma música chamada "Jayne", que entraria no ano seguinte no primeiro álbum solo de Kelly Jones.

Neste ano de 2007, Kelly lançou seu primeiro álbum solo, chamado Only the Names Have Been Changed, com 10 faixas que levam nomes de mulheres, e arranjos simples de pianos, violões e cordas. O baterista Javier Weyler também lançou um disco solo, sob o nome Capitán Melao, um trocadilho com palavras envolvendo sua origem latina.

Ainda este ano, a banda gravou uma cover de "You Sexy Thing", do Hot Chocolate, para o CD comemorativo de 40 anos da Radio 1 da BBC. E finalmente, em outubro último, o Stereophonics estava plenamente de volta, com o single "It Means Nothing", que estreou em 12º lugar na parada britânica. A canção, inspirada pelos atentados terroristas em Londres e pela vontade de Kelly em retornar aos velhos valores do começo da carreira. Logo após o single, a banda lançou seu mais recente álbum, chamado de Pull the Pin. Mais uma vez, número 1 na parada britânica. E mais uma vez, os Stereophonics estão de volta.

O próximo single extraído de Pull the Pin será "My Friends", e será lançado no dia 03 de dezembro no Reino Unido.

Curiosidades

-- Kelly Jones sempre teve uma relação difícil com a mídia, e já fez críticas a jornalistas (na música "Mr. Writer", especialmente) e a outros músicos, como Matt Bellamy, do Muse, e Tom Yorke, do Radiohead. Ele também chamou reality shows musicais como Popstars e X Factor, e "bandas fabricadas como o Hear'Say de "piadas que não contribuem em nada com a música".

-- Um exemplo da ironia e da esculhambação de Kelly com a mídia: em 2000, ele declarou para o New Music Express, semanário musical britânico: "Sou um nazista espancador de gays com um pinto que parece um rato. Odeio os ingleses e estou numa banda de merda que faz músicas de merda. Ah, e minha cabeça tem o mesmo formato de uma batata". Simpático ele, não?

-- Mais uma de Kelly Jones, também em 2000: na cerimônia do Brit Awards daquele ano, Kelly perguntou ao mestre Tom Jones "Tom, posso ficar com seu prêmio?". O eterno crooner galês devolveu: "Não, Kelly, você pode esperar 35 anos como eu tive que esperar". Podia ter ficado sem essa...

-- Kelly tem fama de ser fumante inveterado, na casa de 60 cigarros ao dia.

-- Kelly também tem o hábito de usar jaquetas de couro, roupas antigas e, de uns tempos pra cá, mesmo em concertos noturnos ele sempre está de óculos escuros.

-- O tecladista Tony Kirkham e o guitarrista Adam Zindani estão atualmente acompanhando a banda nos shows.

-- Várias canções dos Stereophonics foram utilizadas em filmes e seriados. O caso mais conhecido é "Maybe Tomorrow", que toca nos créditos finais de Crash, vencedor do Oscar de melhor filme; mas outros exemplos são o do uso de "Dakota" num episódio da finada série Veronica Mars; "Rewind" aparece na série Cold Case; "Superman" aparece em Smallville; "Devil" aparece na série Rescue Me.

-- A canção "I'm Alright" aparece e é discutida em detalhes num episódio da série South of Nowhere.

-- Quando o Oasis lançou a música "The Hindu Times", em 2003, muitos notaram a semelhança de um riff com trechos de "Same Size Feet", do Stereophonics. Perguntado sobre um possível processo de plágio contra a banda dos irmãos Gallagher, Kelly Jones declarou: "nós copiamos tanta coisa do Oasis ao longo da nossa carreira que é motivo de orgulho ver Noel e Liam copiando alguma coisa nossa!".

Discografia:

Álbums: Word Gets Around (1997), Performance and Cocktails (1999), Just Enough Education to Perform (2001), You Gotta Go There to Come Back (2003), Language. Sex. Violence. Other? (2005), Pull the Pin (2007).

Singles: "Local Boy in the Photograph", "More Life in a Tramps Vest", "A Thousand Trees", "Traffic", "Local Boy in the Photograph" (relançamento), "The Bartender and the Thief", "Just Looking", "Pick a Part That's New", "I Wouldn't Believe Your Radio", "Hurry Up and Wait", "Mama Told Me Not to Come" (com Tom Jones), "Mr. Writer", "Have a Nice Day", "Step On My Old Size Nines", "Handbags and Gladrags", "Vegas Two Times", "Madame Helga", "Maybe Tomorrow", "Since I Told You It's Over", "Moviestar", "Dakota", "Superman", "Devil", "Rewind", "It Means Nothing" e "My Friends".

Álbum ao vivo: Live from Dakota (2006)

DVDs: Live at Cardiff Castle (1998), Live at Morfa Stadium (1999), Call us What You Want But Don't Call Us in the Morning (2000), Day at the Races (2002), Language. Sex. Violence. Other? (2006), Rewind (2007).

Material publicado pela revista Bizz (ou Showbizz, dependendo do período) sobre o Stereophonics:

Showbizz - julho de 1999 - matéria sobre diversas bandas saídas do País de Gales, incluindo o Stereophonics:

LAN PEN OL Y SAIS*

por José Flávio Júnior e Maíra Mee

Elas estão balindo, ou melhor, batendo à sua porta. Depois de dominar a cena pop rock do Reino Unido e de correr por outros cantos da Europa, uma leva de bandas galesas começa a ter seus discos editados até mesmo aqui, no longínquo Brasil. Manic Street Preachers, Stereophonics, Catatonia e Super Furry Animals são alguns dos nomes que estão sempre nas capas das revistas musicais inglesas e começam a ser conhecidas entre nós.

Sinceramente, o que vem à sua cabeça quando Gales é mencionado? Nada, não é? Pois vamos a uma aulinha: o país faz parte do Reino Unido da Grã-Bretanha, assim como Inglaterra, Escócia e Irlanda do Norte. Está localizado na região oeste da ilha principal, tem sua economia baseada na pecuária ovina (há tempos imemoriais seus habitantes são alvo de gozações sobre sexo com ovelhas) e na exportação de minérios, toma surras históricas no futebol, mas se garante no rúgbi. Cardiff é a capital e a sopa de batata com alho-poró é o prato nacional.

O povo celta foi o primeiro a habitar a região, que hoje é conhecida por País de Gales. Esses nativos deixaram o galês (que não deve ser confundido com o gaélico, língua falada originalmente em outras partes do Reino Unido) como legado e, mesmo com a oficialização do inglês, um quinto da população atual ainda fala o idioma de seus ancestrais.

Apesar de ser um país dado à poesia e à música, historicamente o País de Gales contribuiu relativamente pouco para a cultura pop britânica. Pode-se dizer que sua maior influência no rock veio do poeta Dylan Thomas (morto em 1953, sem jamais ter ouvido alguma música em quatro por quatro, a batida tradicional do rock´n´roll). Foi ele que um certo americano chamado Robert, ou Bob, homenagou quando quis substituir seu sobrenome Zimmerman. Virou, claro, Bob Dylan. John Cale (ex-guitarrista do Velvet Underground), a diva negra Shirley Bassey (que cantava "Goldfinger", tema de OO7 Contra Goldfinger, com os braços para trás, sem jeito), o cantor Tom Jones, o supracitado poeta Dylan Thomas e recentemente Gary Barlow (ex-gorducho e ex-Take That, atual ídolo teen) foram os poucos galeses a se destacarem neste século. "Gales nunca teve muito rock. Mas agora tem o Catatonia, o Super Furry Animals, bandas de que gosto muito", conta o produtor Paul Ralphes, galês radicado no Rio que já trabalhou com Skank, Biquíni Cavadão, O Rappa e Titãs. "O Manic Street Preachers é hoje a banda principal da Europa e eu os adoro porque eles têm orgulho de ser galeses", completa.

* (Up the Englishmen´s arse!, ou "p** no c* dos ingleses!", a frase em galês mais famosa no Reino Unido)

Dylan Thomas

"Acabo de tomar dezoito uísques. Um recorde, creio eu." Reza a lenda que essas foram as últimas palavras do poeta (1914-1953). A bravata en-graçada, típica de alcoólatra, era o reverso aparente de versos tristes, como os do clássico poema Do Not Go Gentle Into That Good Night ("Não entres nessa noite acolhedora com doçura"..."pois a velhice deveria arder e delirar ao fim do dia/ Odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura" - tradução de Ivan Junqueira, José Olympio Editora, 1991), uma referência para todo galês que se preze.

Tom Jones

O cantor foi homenageado recentemente numa colaboração da cantora do Ca-tatonia, Cerys Matthews, com o Space, grupo de Liverpool. "The Ballad Of Tom Jones." O dueto retrata um casal em crise que só pára de se agredir quando ele liga o rádio e pinta uma música do grande crooner de Gales (conhecido pelas gerações mais novas de brasileiros por ser a voz da versão de "Kiss", de Prince, feita pelo Art Of Noise no fim dos anos 80). A balada começa com a mulher dizendo que seu parceiro é pior que Hannibal Lecter, Charles Manson, Freddie Krueger e Satanás juntos. Ele confessa que quer envenenar a pizza dela. Até que chega o momento redentor e a dupla agradece a Tom Jones: "Você evitou que matássemos um ao outro/ Você nunca saberá, mas salvou nossas vidas".
Em tempo: Anthony Hop-kins, que viveu o tal Hannibal Lecter (ou Hannibal, o canibal) em O Silêncio dos Inocentes, também é galês, e muito orgulhoso disso.

Manic Street Preachers

A maior banda galesa de todos os tempos. Ponto. Com cinco álbuns lançados e uma legião de fãs que os acompanha desde o início da década, os rapazes socialistas da pequena cidade de Blackwood nunca estiveram tão estabelecidos quanto hoje. Frases como "Nós somos a escória jovem, linda e p*** com o mundo" e "Para nós, vida ainda é repetição, humilhação, tédio" foram algumas das pérolas que a banda so-l---tou nos jornais bri---tânicos, na época do lançamento do primeiro álbum, Gene-ration Terrorists, de 1992. "It´s So Easy", do Guns´N´Roses, era cover recorrente nos shows dos Manics, que causavam estranhamento por ser a única banda de hard rock numa cena que era dominada pelas bandas shoegazers (literalmente, "olhadores de pés", de tímida presença de palco) como o Ride. O guitarrista (que entrou na banda sem saber tocar seu instrumento) e compositor Richey James Edwards alcançou o auge no disco Holy Bible, de 1994, com ácidas letras políticas. Pouco depois do lançamento do álbum, o carro do anoréxico Richey foi encontrado próximo à Severn Bridge, ponte procurada por um grande número de suicidas britânicos. O corpo do rapaz nunca foi encontrado, e volta e meia surgem boatos do tipo "Richey não morreu". O MSP seguiu como um trio e nunca mais foi o mesmo, embora tenha atingido níveis inéditos de sucesso. O vocalista e guitarrista James Dean Bradfield e o baterista Sean Moore continuaram fazendo as músicas e o baixista Nicky Wire assumiu o posto de letrista. Soltaram o maravilhoso Everything Must Go em 1996, apostando menos no peso e lamentando o sumiço do "falso" guitarrista. This Is My Truth Tell Me Yours, quinto rebento, chegou às lojas no final do ano passado e levou uma enxurrada de prêmios na Europa. Belo e depressivo, o disco foi lançado no Brasil.

Stereophonics

Com apenas dois discos lançados,Word Gets Around e Performance And Cocktails (este saiu por aqui no mês passado), eles são o fenômeno adolescente da moderna Grã-Bretanha. Nada mal para três garotos saídos de uma minúscula vila do norte do País de Gales chamada Cwmaman. O líder Kelly Jones é uma das figuras mais assediadas na Europa e o rock´n´roll feroz do grupo é herança dos discos de Led Zeppelin e Creedence Clearwater Revival que eles pegavam emprestados com os irmãos mais velhos. São tratados com o maior carinho pela imprensa e pela gravadora, a V2, que bancou até a filmagem do videoclipe de "Bartender And The Thief" no Vietnã.

Gorky’s Zygotic Mynci

Optando pelo galês na maioria das composições, a banda nasceu na costa oeste do país, região em que o número de falantes do idioma celta é maior. Começaram a tocar quando tinham apenas 13 anos, em 1990, com um repertório baseado em letras que retratavam seu cotidiano escolar. O som, repleto de mudanças de tempo, remete a alguns trabalhos de Frank Zappa. A coletânea Introducing..., de 95, cobre a primeira fase do grupo, presente nos álbuns Patio, Tatay e Bwyd Time. Analisando a arte das capinhas e dos encartes dos seis discos que o GZM já lançou, dá pra dizer que o cogumelo é bastante apreciado pelos garotinhos. Foram dispensados pela Mercury junto com mais um monte de bandas, mas já estão de gravadora nova, a Beggar´s Banquet, prometendo o disco novo para o segundo semestre.

Catatonia

A vocalista Cerys Matthews é o centro das atenções no Catatonia. Seu sucesso atesta que uma garota comum pode se tornar símbolo sexual se for simpática, tiver atitude e, principalmente, se for boa de voz e de banda. Cerys cantava nas ruas de Cardiff quando conheceu os quatro rapazes da banda, em 1993. Desde então, todo e qualquer compacto ou EP que o Catatonia lançou teve boa repercussão na mídia. 1996 foi o ano em que o quinteto deu à luz o primeiro álbum, Way Beyond Blue. Músicas poderosas como "Bleed" ressaltavam o estridente canto da moça e apontavam que a consagração se aproximava. International Velvet, aclamado disco de 98, confirmaria a previsão. A primeira faixa a estourar foi "Mulder And Scully", que relatava um relacionamento que só poderia ser entendido pelos agentes da série Arquivo X. Com "I Am The Mob", "Road Rage", "Strange Glue" e "Game On" também sendo maciçamente executadas nas rádios britânicas, o pop rock do Catatonia viraria febre e os porres de Cerys ficariam mais conhecidos. Este ano saiu Equally Cursed And Blessed. Mais pop, o álbum reforça a origem galesa do grupo em músicas como "Storm The Palace" (contra o turismo in-devido em Gales) e "Londi-nium" ("Londres nunca dorme, é apenas uma m***").

Super Furry Animals

O Ffa Coffi Pawb (F***-se Todo Mundo) encerrou atividades em 1993 e de suas cinzas surgiu o Super Furry Animals. Dois anos mais tarde, o quinteto de Cardiff lançaria Fuzzy Logic, cujos maiores méritos são a baladinha "Something 4 The Weekend" e o proto-hit "Bad Behavior". No afã de definir a maçaroca pop-rock-eletrônica cheia de referências organizada pelo SFA, a imprensa tentou de tudo: mistura de Blur com Pulp, Blur com LSD, Bowie com Syd Barrett, e por aí afora. O brilhante Radiator deu continuidade ao trabalho dos galeses, parindo singles incessantemente. "Demons", "She´s Got Spies", "Hermann Loves Pauline" (que cita Che Guevara), "The International Language Of Screaming" e "Chupacabras" viraram hinos entre a juventude indie da ilha. Na mistura lisérgica, sobra até para a América Latina. Letra e clipe de "Chupacabras" foram concebidos na Colômbia e o novo disco, Guerilla, será lançado no Brasil pela Sony.

Língua de doido

"Todos os dias quando acordo/ Agradeço ao Senhor por ser de Gales", diz o refrão de "Inter-na-tional Velvet", sucesso do Catatonia cujas estrofes são cantadas na língua pátria da banda. Veja se você consegue sacar alguma semelhança entre o original em galês e as traduções para inglês e português.

Em galês:

Deffruch Cymry cysglyd
gwlad y gân
dwfn yw´r gwwendid
bychan yw y fflam
Creulon yw´r cynhaeaf
ond per yw´r dôn
´Da´ alaw´r
alarch unig
yn fy mron

Em inglês:

Wake up sleepy Welsh,
land of song
Deep is the weakness,
Small is the flame,
The harvest is cruel,
but thetune is beautious
With the song of the
lonely swan
in my chest

Em português:

Acorde Gales sonolenta,
terra da canção
Profunda é a fraqueza,
Pequena é a chama,
A colheita é cruel,
mas a melodia é bela
Com a canção do
cisne solitário
em meu peito

É bom ficar de olho nas novas bandas do País de Gales. Um grupo como o Topper, autor da be-lí-s-sima "Something To Tell Her", terá mais facilidade de se firmar no cenário pop rock depois que Manic e Stereophonics mostraram o caminho. Melys (traduzindo: Doce), Wwzz (que conta com integrantes do SFA), Manchild (projeto parecido com o Unkle, de James Lavelle e DJ Shadow), David Wrench (chamado de "o Nick Cave galês") Cartoon, Crocketts, Ether e Derrero são ótimas pedidas, que podem estar pintando num segundo momento da invasão made in Wales.

Showbizz - junho de 1999 - resenha do disco Performance and Cocktails:

STEREOPHONICS - PERFORMANCE AND COCKTAILS - V2/ROADRUNNER

Originalidade não é o ponto forte da banda

Difícil categorizar o tipo de rock do Stereophonics. O trio galês chega ao segundo álbum, Performance And Cocktails, freqüentando duas panelinhas britânicas. A dos "indie pesados" (Reef, Terrorvision, Skunk Anansie) e a "super pop" (Catatonia e Space). Talvez esse trânsito de mão dupla explique as 44 mil cópias vendidas no dia de lançamento de Performance no Reino Unido. E dá-lhe capa de revista européia, sabatina em semanário inglês, pôster em quarto de adolescente. "Roll Up And Shine", que abre o disco, é bem legal. "Pick A Part That´s New" e "T-shirt Sun Tan", idem. Mas fica uma pergunta: o que o Stereophonics gravou que o Ocean Colour Scene, ou qualquer banda inglesa atual, ainda não tenha gravado? Nada. São as mesmas referências resultando nas mesmas releituras. Empolgante mesmo só o Oasis, que, enquanto não solta material novo, anula as possibilidades de se dar nota dez para um álbum de rock. Um sete já está bem legal para o Stereophonics. (José Flávio Júnior)

Nota 7

Showbizz - outubro de 1999 - resenha do disco Word Gets Around:

GRANDE PONTAPÉ INICIAL

Word Gets Around (V2/Roadrunner)

Word Gets Around, de 1997, disco de estréia do trio galês Stereophonics, tem mais acertos do que Performance And Cocktails, o posterior, já editado por aqui. A voz rouca de Kelly Jones na faixa de abertura, "A Thousand Trees", já proporciona alguns arrepios - um rockão apaixonado cheio de metáforas, que desemboca no refrão "É necessário apenas um fósforo/ para botar fogo em mil árvores". "More Life In A Tramps Vest", "Local Boy In A Photograph" e "Goldfish Bowl" prolongam a empolgação da primeira música. Como todo bom disco de hard rock, a baladona não poderia estar ausente: "Traffic" fez um sucesso estrondoso no Reino Unido. Em versão ao vivo, "Traffic" aparece no "lado B" do single de "The Bartender And The Thief", hit do segundo álbum do Stereophonics que também está saindo no Brasil. As outras três pauladas do disquinho são a versão ao vivo da própria "Bartender", "She Takes Her Clothes Off" e "Raymonds Shops", dedicada às outras bandas que colocaram o País de Gales no mapa: Manic Street Preachers, Catatonia, Super Furry Animals... (José Flávio Júnior)

nota 8

Bizz - junho de 2001 - resenha do disco Just Enough Education to Perform:

STEREOPHONICS

Just Enough Education To Perform (V2/Sum) - três estrelas

Kelly Jones acerta a mão só quando não inova

O milionário, balonista e visionário Richard Branson realmente estava certo ao fazer do Stereophonics um dos primeiros nomes do elenco da então novíssima gravadora V2. Contratado em 1996, o trio galês comprovou o faro apurado do ex-proprietário da Virgin e, em dois álbuns, tornou-se um dos maiores grupos da música britânica com harmonias elaboradas, melodias grudentas e verve para falar sobre o cotidiano teen. Passados cinco anos, a maturidade parece, enfim, ter batido à porta. Encarar a vida adulta e estabelecer novos parâmetros ou jogar no seguro para garantir a fama? Just Enough... é o flagrante exato dessa cruel dúvida pós-adolescente. Em algumas faixas, a banda de Kelly Jones encara uma inédita faceta nostálgica ao reciclar com mais pegada a linguagem blues rock de nomes dos anos 60 como Jimi Hendrix e Cream ("Vegas Two Times").

Em outras, como nas baladas popíssimas "Mr. Writer", "Maybe", "Lying On The Sun" e "Step On My Old Size Nines", pensa duas vezes e volta ao que sabe fazer de melhor. Banda e ouvintes saem ganhando apenas na segunda opção.

Para quem gosta de: Power pop, Big Star, Teenage Fanclub, "Anna Júlia" (texto de Abonico R. Smith)

Bizz - janeiro de 2000 - resenha do disco Reload, de Tom Jones, que conta com a participação do Stereophonics em uma das músicas:

TOM JONES

Reload (V2/Roadrunner)

O velho crooner em boas - e más - companhias

As bandas novas vivem dizendo que o amam, ele é citado em refrões de britpop e costuma se dar bem quando grava música contemporânea. Assim sendo, este disco de duetos unindo a nova guarda do pop rock britânico e adjacências ao velho crooner galês Tom Jones acaba não sendo tão picareta. Reload sugere uma nova bombada na carreira do cantor, mas deve ser consumido pela garotada com apetite kitsch (mas com todo o respeito). Tem muita coisa inusitada, algumas inevitáveis derrapadas - parceiros malas, músicas mal escolhidas - e... versões até melhores do que as originais! Jones está totalmente à vontade ao lado de Robbie Williams em "Are You Gonna Go My Way", de Lenny Kravitz, turbinada por metais. "All Mine", do Portishead, ganhou uma versão dilacerante na voz do mestre, ao lado do Divine Comedy. Os conterrâneos também não fazem feio. James Dean Bradfield, do Manic Street Preachers, duela com o ídolo em "I´m Left, You´ re Right, She´s Gone" para ver quem tem o vocal mais emocionante e Cerys Matthews, do Catatonia, faz charminho em "Baby It´s Cold Outside", clássico do jazz romântico, gravado originalmente por Ray Charles e Betty Carter, no início dos anos 60. A seleção tem ainda Stereophonics, Van Morrison, Cardigans, Pretenders e outros grandes artistas pagando tributo. Ou, dependendo do caso, pagando mico. (José Flávio Júnior)

Nota 6

Bizz - outubro de 2000 - trecho de uma matéria sobre o festival de Reading daquele ano, assinada por José Flávio Júnior:

"Os dois últimos atos no Main Stage se deram com os esperados Placebo, numa apresentação horrível, repleta de composições inéditas (algumas, com a participação de um rapper zé-ninguém de Los Angeles), e Stereophonics. O trio galês equivale ao Skank no Brasil. Tudo o que fizeram até agora em sua pequena carreira teve dignidade e sucesso garantido. As garotas, que acham o vocalista Kelly Jones um gato, berraram jóias pop como "A Thousand Trees" e "T-shirt Sun Tan". O conterrâneo crooner Tom Jones veio para o dueto de "Mama Told Me Not To Come" no finzinho."


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-Rock Am Ring (2003) ( 250mb ) ( .rar )
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